Quantcast
Channel: Pensando bem …
Viewing all articles
Browse latest Browse all 21

Depressão e fé

$
0
0

A depressão é hoje, no Brasil, um problema de saúde pública!

Os números apontam para um patamar que coloca o Brasil como o país com maior índice de depressão na América Latina e o quinto no mundo.

A ideia de que o Brasil é um país feliz e como diz a canção, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, não elimina a crescente onda de depressão. Os motivos são vários, contudo, temos uma publicidade global que vende a ideia de que somos um povo alegre, feliz.

Posso até dizer que realmente somos, pois percebo isso quando viajo para outros países. Mas, confundimos alegria com felicidade. A felicidade é uma condição emocional onde poucos conseguem chegar, já para ficar alegre basta uma boa piada. Ser uma nação alegre não significa ser uma nação feliz.Outro paradigma sobre o Brasil, que muitas vezes não condiz com a realidade, é o de que o povo brasileiro é  religioso e com fé em Deus.

Mais de 90% são Cristãos, entre Católicos e não Católicos. Assim, podemos imaginar que a depressão não chegaria à mente do brasileiro que pratica religião. Mas, sabemos que no Brasil a prática consciente da religião é para poucos. Estima-se que apenas 4% dos que professam uma religião praticam por escolha própria (conversão pessoal). A maioria segue mais as tradições familiares e também as necessidades imediatas de milagres.

Leia mais:
:: Depressão – Perguntas e Respostas
:: Depressão – Perguntas e Respostas (Continuação)
:: Cura espiritual é diferente de cura emocional – sobre transtornos emocionais
:: Sobre Transtornos Emocionais – nunca é de mais.

Quem tem fé, pode ter depressão?

Neste sentido, já ouvi pregadores religiosos afirmarem que se uma pessoa tem Deus no coração ela não fica depressiva. Por conta desse tipo de postura, muita gente demora a procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica. Esse é um equívoco religioso que enquadro na onda do fanatismo ou da ignorância sobre a religião. Já atendi muitos padres, missionarias e pastores em crise aguda de depressão. E eram pessoas de muita fé e com prática religiosa consciente.

Não podemos manter a ideia de que quem reza, ora e pratica uma religião não tem depressão ou que saem dela apenas pelo viés da religião. De fato, podemos constatar casos de milagres. Eu já tive paciente com depressão aguda e com necessidade de muita medicação psiquiátrica para o tratamento diário que, ao voltar de um encontro religioso, estava sem sintoma de depressão e parou de usar medicação. Mas são casos isolados, não podemos manter a postura de que só pela fé e prática religiosa uma pessoa irá sair de um quadro depressivo.

 A depressão é um sintoma que pode brotar de diversos fatores: físicos, por stress, perdas parentais, desavenças amorosas, decepções. Mas, sabemos que a depressão, propriamente dita, é aquela que se desenvolve ao longo dos anos, desde a infância do indivíduo e, está diretamente associada a vínculos psicoafetivos.

Mesmo que a pessoa viva por muitos anos sem ter manifestado sintomas, diante de um fator agravante na vida, ela pode fazer emergir o sintoma que já estava sendo construído internamente. Quando é assim, a depressão leva muito tempo para ser tratada. Necessita de todo um processo de reconstrução interna da história pessoal do vínculo afetivo.

Quando a cura pode ser considerada um milagre?

Quando encontramos uma pessoa que teve depressão e logo conseguiu superar com medicação e psicoterapia, é sinal de que aquela depressão era apenas situacional. Por isso, temos de ter cuidado em caracterizar quando é ou não é um milagre.

Só posso considerar um caso de cura por milagre, quando uma pessoa possui uma depressão estruturante e, isso muda de posição de uma hora para outra a partir de um evento religioso. Deixa de ter a depressão que já estava incorporada como personalidade na pessoa. Mas, é preciso tomar cuidado! Pois, muita gente abandona tratamentos apenas por sentir-se bem num determinado momento ou período curto. Porém, depois a depressão volta para seu estado de origem.

Por isso, alerto que a fé e a prática religiosa são aliadas poderosas num tratamento de depressão. Desde que a pessoa não utilize a religião como autoflagelo e chicote de culpas. Porque a culpa acentua a depressão. É necessário buscar ajuda médica e psicoterapia associada, pois o remédio não pensa e não elabora, apenas ajuda na melhora da reorganização da química cerebral.

É no processo psicoterapêutico que há a elaboração dos motivos que levaram a instauração da depressão e que, de fato, vai colaborar para o paciente se curar desse estado. E, sabemos que esse processo é longo.

A prática religiosa com fé acelera o processo de cura 

Também, alerto aos familiares que: ao verem pessoas ao seu redor com quadro depressivo, com um olhar de fuga, uma tristeza complacente e um isolamento pessoal, é necessário aproximar-se da pessoa. Propor a ela e provocá-la a buscar ajuda. Porque, o grande vilão da depressão é a perda de potencialidades e, também, a tendência ao suicídio. Hoje 80% dos casos de suicídio poderiam ter sido evitados se tivesse passado por um tratamento de depressão.

A fé de quem está em depressão não pode ser para fazer negar o sintoma, ao contrário, deve ser uma forte aliada da pessoa para a busca de cura. A prática religiosa com fé, de fato, pode ajudar acelerar no processo de cura de um tratamento de depressão. É o que tenho observado ao longo dos anos com a Psicologia e Psicoterapia.

 

The post Depressão e fé appeared first on Pensando bem ....


Viewing all articles
Browse latest Browse all 21