Páscoa é encontro, é caminho…
A Semana Santa é a principal manifestação da fé cristã para os católicos. Nela, temos a síntese bíblica do povo de Deus a caminho, uma história que nasce na narrativa simbólica do livro do Gênesis. Deus que tudo criou viu que tudo era muito bom. Da história da humanidade que se estabelece nos personagens de Adão e Eva e no estabelecimento da parceria, simbolizada na criação de Adão pelo barro (terra) – o homem encontra-se e nasce em parceria com a terra, provém de seu pó, esta que nos sustenta com alimentos e encantos naturais. De Adão nasce a mulher, Eva, retirada de sua costela, de seu lado, para lado a lado caminharem. Nesta bela narrativa do Gênesis, inspirado por Deus, o autor traz uma simbologia a ser interpretada. Lembrando o que já nos alertou o Papa Francisco, que não podemos ver a narrativa do Gênesis como fato real, mas simbólico, pois em pleno século XXI não podemos cair no erro de excluir a teoria da evolução com tantas provas científicas sobre a evolução. Aqui temos mais um argumento do encontro: o ser humano se encontrando com a ciência. Sendo assim, a religião deve também seguir este caminho, tanto que no Vaticano há campos de pesquisa em parceria com grupos científicos. Ciência e religião se encontram!
Nossa Páscoa está relacionada com o encontro histórico que os Judeus fazem por ocasião da Páscoa, episódio datado na narrativa bíblica a partir do livro do Êxodo 12 1-14, em que Deus pede ao povo Judeu, oprimido pela escravatura no Egito, celebrar a Páscoa do cordeiro imolado em preparação a fuga da opressão “Este dia será para vós uma festa memorável em honra do senhor, que haveis por celebrar por todas as gerações, como instituição perpétua.”(Ex 12,14). Nossa páscoa hoje é do reencontro de Deus com a humanidade na pessoa de Jesus Cristo. aquele que vai para a cruz e redime a humanidade do seu pecado histórico.
Qual pecado histórico da humanidade diante de Deus?
O afastamento do ser humano das promessas de Deus para a humanidade, é o grande pecado histórico. Assim aconteceu na simbologia de Adão e Eva que desejaram ser eles mesmos deuses e por isso quiseram ter acesso a árvore da ciência, do bem e do mal. E depois no desencontro do povo de Deus a caminho, representado no povo Judeu, que após a fuga do Egito em busca da terra prometida, se desencontra com Deus por desejar respostas imediatas, poder e glória para si.
Na Páscoa Cristã, reencontramos com os promessas de Deus na pessoa de Jesus Cristo que vem propor o Novo Mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22,36-40). Nesta perspectiva, Jesus Cristo se encarna verbo na proposta de vivenciar o Amor. Amor é uma palavra simples de se escrever e complexa para se viver. Amor e amar são, respectivamente, sentimento e ação que prescinde um ser maduro, capaz de se encontrar consigo mesmo, com o próximo e com Deus.
Em Cristo, temos a esperança da vida eterna!
A ressurreição de Jesus Cristo é a certeza da nossa salvação. Temos uma promessa cumprida pelo Deus criador. Um Deus que mesmo tendo a humanidade, historicamente, se afastado Dele, ainda dá novas chances e oportunidades para a sua salvação. Em Cristo pela páscoa que celebramos na Igreja Católica, temos a esperança da vida eterna. Mas uma esperança que não é espera de estar parado, e sim uma esperança conjugada, de esperançar, isso é, procurar. É pelo ato de amar pela via do amor que podemos chegar a nossa salvação.
Por incrível que pareça no processo da Psicoterapia, com os instrumentos da Psicologia, mas especificamente da teoria psicanalítica a qual utilizo, colaboramos com essa busca por parte dos pacientes. Ajudamos cada paciente a se reencontrar consigo mesmo na capacidade de se amar e depois colaboramos para que consiga evoluir na relação com os outros, desencadeando uma forte evolução das relações interpessoais. Quando o indivíduo se fecha em seu próprio mundo não vê a si mesmo e não se conhece, tende a se isolar, não socializar e consequentemente cria sintomas autodestrutivos. Um cidadão analisado, que passou por um processo de psicoterapia com começo meio e fim, é um cidadão que desenvolve melhor capacidade de estabelecer vínculo afetivos e efetivos e criar parcerias.
A Páscoa de cada um de nós é a vivência do encontro, de encontrar-se.
No caso específico da prática religiosa vivenciada na semana santa, temos um forte momento de elaboração e reflexão sabre como anda nossos encontros conosco mesmo, com o cristianismo e com Deus. Passar a semana santa e reviver o tríduo Pascal, em que temos a instituição da Eucaristia(quinta feira), o espaço legítimo de Cristo ressuscitado(João 13, 1-15); aqui Jesus nos mostra como devemos agir: “Portanto, se eu, o Senhor e mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.”(João 13,14). Hoje mesmo o Papa Francisco lavou os pés de presidiários em uma penitenciária em Roma. Na cruz( sexta feira) a entrega total por amor e a lembrança de que a cruz é nossa referência. É uma referência que vai na contramão da sociedade de consumo que insiste em excluir a dor e o sofrimento, negam até a morte e com isso a dor. Na perspectiva Cristã o sofrimento e a morte não podem ser motivos de angústia pois temos a certeza da ressurreição( domingo de Páscoa). De fato a Semana Santa é um forte período para vivenciarmos a perpetuação da história cristã na esperança de termos a glória da ressurreição. Uma trajetória do reflexão que culmina na prática do amor.
Encontrar-se com a humanidade no respeito às diferenças, tendo em vista a construção de uma sociedade unida pelo amor. Com esta postura contemplativa, reflexiva e de propósito de vida, viver a Páscoa tem muito sentido. Do contrário torna-se apenas um ritual religioso. Sem o comprometimento, pode até parecer um ritual obsessivo e patológico. Com o comprometimento do que podemos vivenciar na Semana Santa, teremos forças na construção da Civilização do Amor.
Enfim, Páscoa é o encontro com o compromisso de transformação da sociedade, uma transformação que faça a vida ser vivida plenamente por todos independente do credo, raça ou ideologia.
Feliz Páscoa. Amem sem distinção.
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